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12 de outubro de 2014

A miragem

Foto: Professional photograph of a couple
from around the turn of the 19th/20th century - Unknown

No criado-mudo
do meu avô
a foto de um casal,
a cada visita,
se desmanchava
pelas beiradas.

Começou pelo busto,
subiu pelos braços,
pescoço.
Um dia cheguei lá -
só havia dois rostos.

Eu queria avisar:
"Vô, seus queridos
tão sumindo!".
Mas ele era cego.
Tocava na imagem,
imaginava as figuras.

Era eu a incomodada
com a segunda partida
dos antepassados.

E aos 12 anos
me perguntava:
quem não tá mais
aqui
nem nos retratos,
alguma vez existiu?


19 de agosto de 2012

Mudei de casa de novo. (Falta mudar a alma)

Levei para a nossa nova casa a velha Ana Paula.
Invejo Zaqueu, que mudou de vida "logo" -
ou será que essa é apenas a impressão que a Bíblia me dá?

(Fotografia de Marina Fuzaro)

São quatro anos de casada e é a nossa terceira casa. Começamos com um quarto, fomos para dois e agora estamos com três. Mudança (como você deve saber), dá um trabalho... Sem contar o stress de chegar ao novo lar e encontrar móveis queridos, adquiridos com tanto esforço, danificados. (Eu juro que nunca mais contratarei a mesma empresa.)

Há pilhas de caixas vazias empilhadas na copa, tapando a nossa visão das janelas alheias e os olhares curiosos dos nossos vizinhos. Levou uns 20 dias para desempacotarmos tudo. Pôr todas as coisas no devido lugar. Fiz questão de lavar todos os nossos utensílios. Casa nova, vida nova, tudo limpo. Reluzindo a... Inox.

Apesar de tudo, mudar é bom. Afinal, salvo algumas exceções, dificilmente a gente se dispõe a ir para um lugar pior. Sempre corremos atrás do melhor. Daquilo que julgamos ser o melhor. Para nós, para nossos filhos (se os temos).

Debati outro dia com Mamãe Gali que seria ótimo se pudéssemos mudar as disposições da nossa alma do mesmo jeito com que deixamos uma casa e montamos outra, em outro lugar. Mas não é assim, não é mesmo? Por incrível que seja, deslocar cadeiras, estante, poltrona, berço, etc., etc., etc. e pôr roupas e objetos de cama, banho e mesa em armários e gavetas despendem bem menos trabalho (bote "bem menos" nisso) do que deixar de ser fofoqueira, deixar de ser "reclamona", deixar de ser rancorosa...

Eu queria mudar a mim mesma com a mesma presteza com que mudei (mais uma vez) de casa.

Porém, dou cabeçada em muros e pontas de faca, incorrendo nos mesmos erros, percorrendo vias e vielas que sei que dão em... Lugar nenhum.

20 de julho de 2011

O jovem que VOCÊ é definirá o velho que VOCÊ será

Quem planta amor na juventude não pode colher solidão na velhice.
Um Post d'A Católica sobre idosos carentes e um (meu avô)
cercado de gente e de afeto. Confira.

Imagem: A coffee farmer in rural Brazil USAID-image (Cafe Bom Dia)

Sou do tipo que adora se confessar com o padre. Não tenho vergonha nem pudor algum de contar todos os meus pecados. E gosto de variar: às vezes me confesso com o pároco da minha paróquia; noutras, com sacerdotes que estão à frente de igrejas como a Capela Nossa Senhora do Rosário - a mais antiga de Belo Horizonte, cidade brasileira onde nasci e vivo.

Uma coisa sempre me intrigou: geralmente, e apesar de há muito ser balzaquiana, sou a mais jovem na fila da confissão. À minha frente ou atrás de mim, invariavelmente estão cidadãos de cabeça branca. Alvíssima. Levei um tempo para entender isso (sozinha), já que seria indelicado cutucar o senhor de cabeça "cor de algodão" diante de mim e perguntar: "Ei, velhinho! O que o senhor faz aqui?".

Eu imagino por que os mais jovens, geralmente, não estão na fila para deslindar seus pecados: muitos estão ocupados demais em ser... Jovens. A igreja, seu silêncio, seus rituais, códigos de conduta e aparente rotina são a última coisa com que querem se envolver. Eles deixam para levar Deus a sério quando (como dizemos aqui no Brasil) "dobram o Cabo da Boa Esperança" ou "descem a serra". Em outras palavras: envelhecem.

Mas, voltemos à fila da confissão.

Fotografia de Водник

Num dia, aguardando a minha vez e observando uma senhora negra, de cabeça branca, com várias sacolas à mão, requebrar seus quadris com dificuldade enquanto caminhava até o confessor, tive a seguinte intuição: "Já sei! Esses velhos todos na fila não estão aqui 'apenas' para contar suas faltas! Eles vêm tanto, porque muitas vezes o pároco é a única pessoa que os ouve. A única que têm para conversar!...".

Essa minha percepção não se embasa em "pesquisa sociológica". Não é científica. Contudo, faz algum sentido para mim. Ela foi reforçada pelo fato de que, quando finalmente ficam cara a cara com o padre, os idosos permanecem com ele minutos infindáveis... Falando, falando... Sem objetividade alguma - a objetividade que a Igreja nos recomenda ter, ao procurarmos o Sacramento da Penitência. Aposto que alguns (ou vários) retornam todo mês ou toda semana. Só para se sentirem menos sozinhos.

Isso me fez pensar no meu avô paterno, Raul.

25 de maio de 2011

Viver é aprender a dizer Adeus

Tenho uma coleção de acenos que deixei no ar,
ao longo da minha vida. Minha irmã Andréa Cristina partiu,
como há muito tempo tanta gente querida anda fazendo

Goodbye, on the Mersey (1881), James Joseph Jacques Tissot

Acabei de assistir a um vídeo postado no Facebook. Um vídeo de despedida. Minha irmã, Andréa Cristina, deixou o seu emprego de Terapeuta Ocupacional da Prefeitura de Contagem, na Grande BH (Brasil), para morar na cidade de São Paulo com o marido, o engenheiro Luis Guilherme. Já falei sobre ela, e o trabalho incrível que desenvolve, aqui no Blog A Católica, no Post Homenagem aos Católicos Não-Praticantes.

Só para retomar (e em síntese).

A especialidade da minha irmã - que tem uma Pós-Graduação nisto - é promover a participação dos Deficientes Mentais na sociedade. Tratam-se de pessoas que sofrem de doenças como a esquizofrenia. E ela era uma funcionária pública exemplar. Começou a carreira na cidade de Divinópolis, no Oeste do estado brasileiro de Minas Gerais, depois passou em um outro concurso público, a fim de trabalhar mais perto da capital de Minas, Belo Horizonte.

Andréa Cristina foi a pioneira, se não me engano tanto em Divinópolis quanto em Contagem, em literalmente "correr atrás" de espaços culturais aonde ela pudesse levar os seus pacientes. Locais, como: museus, galerias de arte, cinemas e teatros. Minha irmã telefonava, explicava a importância de eles receberem os doentes mentais e conseguia ingressos gratuitos. Por isso, ela tem um compêndio de histórias hilárias, envolvendo seus pacientes. E outras emocionantes.

28 de abril de 2011

(Não) olhe o passarinho... Um Post sobre as fotos que não tirei

Uma crônica sobre fotografias não tiradas, fotos que "comprometem"
e imagens que são impossíveis de registrar, pois ficam gravadas
apenas na alma... Você tem histórias parecidas com as que conto aqui?

Fotografia de Anna Cervova

Manhã num parque de São Paulo

Não levei a máquina.
Então, não fotografei
a flor amarela na calçada cinza.

Nem o cisne preto
correndo na água turva.
Nem os cata-ventos coloridos
espetados no isopor,
com uma garrafa de
Guaraná Antártica
cheia de água por cima,
para não saírem todos
voando pelo ar...

Não fotografei a língua
vermelha do mam,
nem o mural cheio de sonhos dos Gêmeos.

Nem os troncos velhos e retorcidos
ou o leão de pedra
com sua boca enorme
e aberta,
onde meninos enfiavam canudinhos.

Nem a placa quadrada
e verde colada
no chão de cimento frio,
onde li pintado de laranja:
"Ibirapuera".

Ninguém verá as fotos
que tirei com a mente.

Registros pessoais de
um dia quente,
em que eu estava gelada,
sozinha e triste. Por dentro.

**********

Esse poeminha é honesto. Digo, verídico. Fui a um lugar lindo, não levei a máquina fotográfica, portanto não guardei para a posteridade as belezas que meus olhos viram. Isso já aconteceu com você? Com meus pais ocorreu o seguinte...

... Nos idos de 1986, depois de passarem o reveillon na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, e fotografarem todos os fogos de artifício multicoloridos no céu a que tinham direito, bem como os passeios que fizeram na Cidade Maravilhosa... Perderam a máquina fotográfica. Com o rolo de filme e tudo. Esqueceram a câmera num banco de praça. Não, não foi no Rio, e sim em Linhares, no estado do Espírito Santo, onde tinham ido em seguida, a fim de visitarem um casal amigo.

Meus pais e eu vivemos histórias diversas, cujo resultado foi o mesmo: ficamos sem as fotos. Não somos os únicos. Torno a perguntar: isso já aconteceu com você?

18 de abril de 2011

Um ano sem o poeta Raul Camargo

Neste Post d'A Católica, você confere 2 poemas inéditos
desse artista sensível (um sobre o computador e outro sobre o amor)
e contempla lindas imagens de rosas amarelas - as preferidas dele

Fotografia de Ivagner

Há um ano, mais exatamente no dia de Santo Expedito, deixava o mundo aos 96 anos de idade incompletos o Poeta Raul Camargo. Para homenageá-lo, A Católica apresenta dois poemas de sua autoria. Ainda não publicados. Você mesmo, internauta, vai poder apreciar o seu talento e prová-lo por si.

Meu relacionamento com esse ser humano singular e artista adorável, já o demonstrei em Post anterior do Blog. Neste, deixo a palavra com os editores do livro Poetas Brasileiros de Hoje (Shogun Editora e Arte, 1986) e com o médico Christian Marcellus, primeiro das dezenas de netos do homenageado.

Segure o coração. Prepare-se para dois aperitivos da sensibilidade de quem vivia para fazer poesia, amar e rezar pela numerosa família.

No primeiro poema, há uma descrição cheia de humor e lirismo da influência da informática nas pessoas e no mundo - isso, em pleno início dos anos 1990, quando o uso do computador pessoal (pelo menos no Brasil) não estava disseminado. No segundo, Raul Camargo nos delicia com um singelo tête-à-tête com a amada (imaginária?) sobre os sentimentos que nutria por ela.

Que Deus o tenha. Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno e que a luz perpétua o ilumine.

Este Post d'A Católica é dedicado a você, que também já perdeu um ente querido. Saudade é pouco para definir o que fica, quando alguém que faz Toda a Diferença parte para o abraço eterno de Deus. Nosso Pai.

**********************

1 de abril de 2011

Crônica sobre a cegueira

Como Paulo um dia, também trago escamas nos olhos
que me atrapalham a ver a vida conforme a visão de Deus

Fotografia de jane doe

Fotografia de David Wagner

27 de novembro de 2010

NATAL: enfim, chega a melhor época do ano. Viva!

Vê essa foto? É assim que enxergo uma árvore sem os meus óculos.
ADVENTO é isto: preparar-nos para O NATAL,
quando todos ajustaremos o nosso foco: Jesus é Deus que se fez homem por nós!

Sou louca pelo Natal. Louca. Fico deslumbrada com as luzes nas ruas do centro de BH, com as decorações dos shoppings, com as pessoas parando os seus carros para distribuir presentes para as crianças e suas famílias desfavorecidas, com as músicas do John Lennon, da cantora brasileira Simone e, sobretudo, do excelente A Harpa e a Cristandade - LP que meus amados Vovô João e Mãe-Ita tinham e que, anos mais tarde, Papai Tuti adquiriu na forma de CD.

Ter retornado à Igreja Católica, contudo, tornou o final de Novembro até o início de Janeiro muito mais especial. Além do Papai Noel com sua maravilhosa roupa vermelha e sua barba (a cada ano que passa, mais alva e reluzente); meus olhos se abriram para focar uma figurinha delicada, não menos reluzente, mas que, diante das imensas árvores de Natal, fica meio apagadinha, quase esquecida: o Bebê Jesus, deitadinho na manjedoura de palha, rodeado por reis e pastores, vaca, cavalo e ovelha.

4 de novembro de 2010

"Eu gosto muito de cachorro vagabundo..."

Quem passa por um infortúnio não merece a nossa piedade,
mas a nossa torcida: afinal, só para a morte não há jeito.
Vira-latas, ao contrário, me comovem profundamente!...

Uma vez, na 6ª série do 1º grau - hoje, do Ensino Fundamental -, uma professora (ou um professor) de Religião ou Artes pediu que cada aluno escolhesse 3 animais e, ao lado de cada um, escrevesse as características que mais apreciava neles. Lembro que eu tinha uma colega chamada Tatiana Aparecida - "Aparecida" em homenagem à padroeira do Brasil, porque a mãe dela teve um parto difícil e pediu a intercessão de Nossa Senhora Aparecida.

Bem, lembro que um dos bichos que Tatiana escolheu foi um cachorrinho, ao lado do qual escreveu: "Fofinho; cheiroso...". Pensei comigo mesma: "Acho que ela não entendeu o exercício!". E não é que eu estava certa? O primeiro animal que anotei foi Tucano, ao lado do qual escrevi (se a memória não me falha): alegre; vivo; feliz. Depois, escolhi a Girafa: elegante; charmosa; metida. Por fim, uma Pantera: sensual; bonita; corajosa; misteriosa.

Ao final, o professor (ou a professora) explicou: "O primeiro bicho, cujas características vocês anotaram, é O QUE vocês SÃO. O segundo corresponde a COMO as pessoas VEEM vocês e o terceiro, ao que vocês GOSTARIAM de SER". Essa aula me impressionou muito e jamais me esqueci do Tucano, da Girafa e da Pantera que selecionei, inconscientemente, para me descrever.

20 de outubro de 2010

Tema de Larissa

Minha prima ganhou o primeiro nome, Larissa,
em homenagem a um dos filmes favoritos de sua mãe,

Tia Beth Camargo: Doutor Jivago (1965).
Ambientado na Rússia, uma das tomadas mais lindas
é a de um campo de flores amarelas...

Você não fica zangado comigo? É que a gente ama muito todo mundo. Mas... Algumas pessoas nos são, digamos, mais especiais. E quem explica esse amor? Só Deus. Ah, se a gente pudesse escolher por quem se apaixona... Quantas dores de cabeça isso me teria evitado no passado! Especialmente, quando o nosso afeto não é correspondido. Estou falando no caso de amor entre homem e mulher. Agora, na nossa família, entre os membros dela, também é assim: há aqueles que a gente ama de um modo mais especial.

E no meio dessas pessoas destaca-se, para mim, minha prima Larissa Cristina.
(Se você acompanha mais miudamente as publicações deste Blog, sabe que vira e mexe, mexe e vira, falo nela.)

6 de outubro de 2010

Graças a Deus: nós temos memória!!

Perfumes, canções, fotografias...
Tudo desculpa para acionar um grande, imenso presente de Nosso Senhor para nós:
a habilidade de Relembrar e Ser Feliz Alguns Instantes Mais!

Não sei se é assim com você também. Quando a coisa fica feia para o meu lado, recorro à memória. Se discuto com o meu marido, lembro daquele instante em que nos conhecemos, nossa primeira conversa, os jantares que dividimos num dos "bandejões" do campus da Federal (Universidade Federal de Minas Gerais). Está tudo tão vivo em mim. Minha memória é tão "brilhante" - não no sentido de excelente, mas no sentido de viva -, que chego a sentir o cheiro do perfume que ele usava.

Enquanto essas lembranças de quando nos conhecemos forem brilhantes para mim, sempre o amarei, porque recorro à fonte, à causa primeira e me apaixono de novo por aquele rapazinho de 22 anos - hoje, ele tem 32.

14 de setembro de 2010

A arte de abraçar caladinhos a Nossa Cruz

Meu avô Raul Augusto seguiu o exemplo de Cristo e assumiu a sua cruz
com tranquilidade, sem desespero, obediente à Vontade de Deus

Já comentei no Post Espinho na carne a respeito da observação de uma amiga muito querida da minha mãe. Ela não entende por que os católicos exaltam a cruz de Cristo, sendo que "ele já saiu de lá há muito tempo: mais de 2000 anos...". O próprio Padre Léo (que vira e mexe, mexe e vira, menciono por aqui), bem, ele mesmo disse em entrevista ao apresentador de TV Jô Soares que a Paixão de Nosso Senhor, apesar de haver durado "apenas 18 horas", é mais lembrada do que a sua Ressurreição, que "dura até hoje".

23 de julho de 2010

Cartinha ao Vovô Raul

Fotografia de Ivagner

NOTA: Esta carta foi escrita por ocasião da morte do meu avô paterno, no anoitecer de 19 de abril, dia de Santo Expedito. Ela está sendo distribuída a cada um dos seus 12 filhos.


Remetente:
Ana Paula,
“manezinha da ilha”

Destinatário:
Vovô Raul,
Avô e Grande Amigo


Florianópolis, 24 de abril de 2010

- Bença, Vovô!

Tô lhe escrevendo aqui de Floripa. Uma chuva... Dessas que faz flores, folhas e galhos tremerem todos com o ímpeto do vento, da água. O rigor da vida.

Tô aqui me preparando pro vazio que me espera em BH.