10 de junho de 2011

TUDO sobre o Sagrado Coração de Jesus

Confira TUDO o que você sempre quis saber sobre o culto
à fonte de todo o amor de Deus por cada um de nós:
o Coração de Seu Filho! Adore-O sem receio!

(Fotografia de GFreihalter)

Internauta d'A Católica, Saudações!!

Estamos no mês do Sagrado Coração de Jesus e o Blog traz para você um texto que pesquisei, redigi e publiquei no informativo de uma das paróquias da Arquidiocese de Belo Horizonte, em Junho de 2010. Se não me engano, a celebração mesmo só ocorre no final deste mês. Contudo, a intenção é dividir informações com você, a fim de que a nossa participação no mistério dessa devoção seja mais fecunda! Afinal, só se AMA bem, aquilo que se conhece de verdade. Leia! Aproveite! Saúde e Paz!!

Viva o Coração de Jesus!

A devoção ao Coração de Jesus é tão antiga quanto a Igreja e teria começado quando um dos soldados traspassou o lado de Cristo crucificado com a lança, fazendo com que saísse imediatamente “sangue e água” (Jo 19,33) – sinais de dois sacramentos: a Eucaristia e o Batismo. Na encíclica Haurietis aquas, Pio XII (papa de 1939 a 1958) frisa que o culto ao “Coração transfixado do Redentor nunca esteve completamente ausente da piedade dos fiéis”. Mas, reconhece que “a sua manifestação clara e a sua admirável difusão em toda a Igreja” deu-se gradualmente e apenas em séculos recentes tornou-se “objeto de culto especial”.

Kreuzigung Christi (1400), Oberrheinischer Meister -
Fonte: The Yorck Project: 10.000 Meisterwerke der Malere

O impulso para iniciar-se a instituição da devoção ao Coração de Jesus, que merece ofício solene no calendário litúrgico, veio da necessidade da Igreja de enfrentar movimentos heréticos como o jansenismo.

Essa doutrina, que se expandiu na Europa nos séculos XVII e XVIII, impunha pesados ônus a aqueles que buscavam a salvação, pois tinha uma concepção muito rigorosa das relações entre Deus e o ser humano. Esquecido da misericórdia divina, ensinava uma religião triste e ameaçadora que repelia os fiéis, ao desfigurar uma das verdades essenciais do Cristianismo: o amor gratuito de Deus por cada um de nós. Assim, o Espírito Santo inspirou santos, bispos e papas para que finalmente se estabelecesse o culto ao Coração de Jesus, justa imagem da Sua infinita caridade para conosco.

O primeiro ofício litúrgico em Sua honra, que contou com a aprovação de bispos franceses e foi celebrado pela primeira vez em 20 de outubro de 1672, deve-se a São João Eudes (1601-1680). Mais de um século depois, em 25 de janeiro de 1765, o Papa Clemente XIII concedeu aos bispos da Polônia e à arquiconfraria (associação de fiéis) romana do Sagrado Coração de Jesus a permissão para realizar o culto público.

Nesse ínterim, convém destacar as revelações que Santa Margarida Maria Alacoque (1647-1690) teve do próprio Cristo: mostrando-lhe o Seu coração, Ele pedia que “as chamas de Sua ardente caridade” fossem comunicadas ao mundo e, àqueles que O reverenciassem, fez 12 promessas, entre elas, a de que quem comungasse nas primeiras sextas-feiras de 9 meses seguidos* não morreria sem receber a Sua graça.

How Marguerite Marie Alacoque receives a revelation of the Sacred Heart
Fotografia de Andreas F. Borchert

Em 23 de agosto de 1856, Pio IX (que instituiu o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria e teve o pontificado mais longo da história: 31 anos e sete meses) estendeu a Festa do Coração de Jesus a toda a Igreja, prescrevendo sua celebração litúrgica. Na virada para o século XX, Leão XIII, pontífice muito piedoso e devoto, consagrou toda a humanidade ao Coração Eucarístico.

Por que adorar o Coração de Jesus?

Ao refletir sobre essa devoção, o Papa Bento XVI ponderou que “toda pessoa precisa de um centro da própria vida, de uma fonte de verdade e de bondade, na qual beber nas diversas situações e no cansaço do dia a dia”. Esse centro ao qual nos dirigimos para beber da água viva, que mata a nossa sede para sempre e da qual Jesus falou à Samaritana (Jo 4,1-15), é o Seu próprio coração.

Segundo o dicionário, “coração” é “um órgão muscular oco, que recebe o sangue das veias e o impulsiona para as artérias”. Também, é “a parte mais central ou mais profunda de algo”, “a parte mais íntima de um ser”. Assim, ao nos oferecer a Sua vida e permitir que Seu peito fosse traspassado pela lança, Cristo, junto com o sangue e a água que jorraram, ofertou-nos o Seu âmago e, nele, o Seu amor. Se “nada no universo supera em grandeza a Jesus”, constata o professor cônego José Geraldo Vidigal de Carvalho, “nada maior em Jesus do que Seu coração”.

Imagem: Jim Capaldi from Springfield, USA

Para Pio XII, “nada proíbe que adoremos o Coração Sacratíssimo de Jesus Cristo, enquanto é participante, símbolo natural e sumamente expressivo daquele amor inexaurível em que ainda hoje o Divino Redentor arde para com os homens”, pois “mesmo quando já não está submetido às perturbações desta vida mortal, ainda então ele vive, palpita”.

Ao adorar o Senhor, de acordo com Dom Paulo de Tarso Grandi, nós abrimos “as áreas de nosso intelecto para os raios da divina misericórdia, tranquilizando o nosso interior e afastando o estresse, dilatando o nosso coração para o amor de Deus e unindo o nosso coração ao Sagrado Coração”.

Em carta durante peregrinação à França, em 1986, o Papa João Paulo II escreveu que “junto ao Coração de Cristo, o coração do homem aprende a conhecer o sentido verdadeiro e único da sua vida e do seu destino, a compreender o valor de uma vida autenticamente cristã, a guardar-se de determinadas perversões do coração humano, a unir ao amor filial para com Deus o amor do próximo”.

Pio XII afirma que o culto ao Coração Eucarístico é “o culto ao amor com que Deus nos amou por meio de Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, o exercício do amor que nos leva a Deus e aos outros homens”.

O maior tesouro dessa devoção

Diz-se que é impossível contemplar o Coração de Jesus sem nos converter: segundo Santo Agostinho, na Sua chaga visível, enxergamos a ferida invisível de Seu grande amor. É Pio XII quem garante: “o Divino Redentor foi crucificado mais pela força do amor do que pela violência dos algozes”. De fato, ao olharmos atentamente a imagem de Jesus Cristo com Seu coração exposto, rasgado pela lança, envolto em chamas, somos movidos a corresponder ao Seu imenso amor, a pagar amor com amor, a “amá-Lo mais apaixonadamente”, como Pio XI escreveu na encíclica Miserentissimus redemptor, e querer (e buscar) ser semelhante a Ele.

Sacred Heart of Jesus with Saint Ignatius of Loyola and Saint Louis Gonzaga (1770),
José de Páez

Por isso, a genuína devoção ao Coração Eucarístico nunca deve ser estática. Ao nos prostrar em adoração diante Dele, devemos, a Seu exemplo, pôr-nos em movimento em direção aos outros, partindo para anunciar-lhes a riqueza e a profundidade do amor de Cristo. Este mistério da nossa salvação – o Filho Unigênito do Pai que morreu pendente numa cruz e teve o Coração aberto para Dele fazer jorrar a fonte da Sua misericórdia – não pode ficar escondido, resumindo-se a uma experiência íntima e individual. Devemos anunciá-lo ao mundo! E que modo mais eficaz de fazê-lo, senão através do nosso jeito de viver?

Padre Zezinho, escritor, compositor e cantor, esclarece a teologia por trás do símbolo do Coração de Jesus: “dar de si até a última gota”. Ele continua: “num mundo no qual até mesmo igrejas ensinam que fomos feitos para o primeiro lugar, quando Jesus ensinava o contrário (Mc 9,35), isso de dar-se totalmente é um chamado dificílimo”.

Mas não impossível. Em carta pelo 50° aniversário da encíclica Haurietis aquas, Bento XVI expõe: “Quem aceita o amor de Deus interiormente é por ele configurado. O amor de Deus experimentado é vivido pela pessoa humana como uma ‘chamada’ à qual ela deve responder. O olhar dirigido ao Senhor, que ‘assumiu as nossas enfermidades e carregou as nossas dores’ (Mt 8,17), ajuda a tornar-nos mais atentos aos sofrimentos e às necessidades dos outros”.

Peçamos a Deus a graça de adorar o Coração Eucarístico como Ele merece ser adorado. E que todas as vezes em que nos demorarmos com Deus, ao contemplar o coração ferido, a face serena e o olhar cheio de ternura de Seu Filho, abramo-nos “ao amor e ao perdão, tornando-nos instrumentos de conversão para todos os que estão afastados do caminho da salvação”, conforme as palavras do carmelita Frei Giribone. Este é o maior tesouro dessa devoção: transformar a nossa vida em “luzeiro de Cristo”, que passa pelo mundo iluminando nossos irmãos.

Sacred Heart - between 1835 and 1856 - author Published by N. Currier

P.S. *As primeiras sextas-feiras de 9 meses seguidos, conforme Padre Joãozinho, scj em pregação num dos acampamentos de oração na comunidade Canção Nova, correspondem, simbolicamente, aos 9 meses de gestação de um ser humano. Implicam, portanto, a pessoa nova que nascerá com a prática da devoção.


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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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