10 de janeiro de 2011

A sua vida é responsabilidade SUA

Correr atrás da sua felicidade garante o seu Passaporte para o Céu.
Não lutar por ela tem sérias consequências. E não adianta culpar ninguém.

Uma vez, acompanhando a imperdível programação da TV Canção Nova, assisti a uma inesquecível pregação de José Prado Flores. Com dezenas de livros publicados, incluindo pela editora Canção Nova, ele é um professor que há mais de trinta anos dedica-se à pregação da Palavra de Deus no México e em vários outros países.

Pois bem: de microfone em punho e falando um inteligível "portunhol" (mistura de português com castelhano), Prado Flores contou uma historinha interessante do que acontece quando morremos.

Segundo ele, quando chegamos ao Céu, um ajudante de Deus chega até nós com uma pesquisa. Quanto mais SIM respondemos, mais pontos marcamos. E é preciso somar cerca de 3.000 (isto mesmo: três mil) para garantir a nossa estadia no Paraíso. Assim, o ajudante começava: "Fulano, você foi batizado?". Diante da resposta afirmativa, então dizia: "Aha! Que bom. Um ponto". E prosseguia:

- Você ia à Santa Missa todos os domingos?
- Sim. Nunca faltei a uma missa sequer.
- Aha! Três pontos.
- Só isto: "três"?...
- Sim. Só. Você assistia às missas com atenção e devoção?
- Sim.
- Ãhã... Três pontos e meio.
- Você pagava o dízimo direitinho?
- Sim, claro.
- Muito bem. Dois pontos.
- Você se casou?
- Sim.
- Foi fiel a sua esposa?
- Sim.
- Ótimo. Quatro pontos.

E ele continuava a pesquisa, perguntando se o candidato à Bem-Aventurança Eterna dava esmolas, se teve filhos, se foi um bom pai, se cuidou dos próprios pais com carinho na velhice deles, se estudava a Bíblia, se dava bons conselhos aos outros, se... Valendo, no máximo, cinco pontinhos para cada SIM. Até que chegou às duas questões finais, que carimbariam o Passaporte para o Paraíso com louvor.

- Atenção. As próximas perguntas valem 1.000 pontos cada uma. Responda com honestidade. Preparado?
- Sim, preparado. Não vejo a hora de ir para o Céu!
- Pois bem. Você foi FELIZ?
- Sim... Acho que sim. Sim, eu fui.
- OK. Você ganhou 1.000 pontos. Agora, responda: você fez alguém feliz?
- Não entendi.
- Vou explicar: quando você chegava em casa, as pessoas sorriam quando o viam? Sua esposa ficava satisfeita, seus filhos vinham correndo para lhe abraçar? Onde você aparecia, as pessoas se alegravam?
- Sim... Acho que sim...
- Parabéns! Você somou mais 1.000 pontos!! BEM-VINDO AO CÉU!

A historinha, que Prado Flores contou com bastante humor, é ilustrativa e eu a transcrevi aqui n'A Católica de memória. Faz pensar, não?

Faz pensar nos malabarismos que propomos a nós mesmos e, especialmente, que os outros nos propõem (ou melhor: nos impõem) para sermos o "católico ideal", o "funcionário ideal", a "filha ideal", a "professora ideal" e até a "bloggueira ideal". Muitas vezes, cedemos a essas pressões na esperança de que, contentando as outras pessoas, acabaremos, por osmose (como se diz), ficando um pouco satisfeitos também.

Contudo... Prestou atenção na historinha do Prado Flores? Os primeiros 1.000 pontos do Passaporte para a Eternidade vão para o SIM à pergunta Você foi FELIZ?. Apenas depois ele pergunta se você fez alguém feliz. E muitas e muitas vezes, nós invertemos essa ordem.

Empenhamo-nos para agradar o padre, a colega de Santa Missa ou do Grupo de Oração, o chefe, os pais, os irmãos, os alunos e os pais dos alunos e até internautas do nosso Blog (se você tiver um). Quando nos damos conta (se Deus nos der a graça de nos dar conta disto), estamos vivendo uma vida de mentira, que não tem a nossa cara, nem a nossa essência, nem o nosso coração. Nosso ideal: agradar os outros.

E quando chegarmos aos Céus e tivermos que responder com honestidade à pergunta Você foi FELIZ?, não adianta dar um (ou uma) "de vítima", pondo a culpa no analista, no sacerdote ou na mãe e no pai que tivemos. E por que? Porque a responsabilidade pela nossa vida é NOSSA. O ajudante de Deus não vai chamar ninguém que nos constrangeu para que fizéssemos o que não queríamos, a fim de prestar contas no nosso lugar.

Fotografia de Hustvedt

Eis, portanto, uma missão dificílima, que cabe a cada um de nós, individualmente: desembaraçar-se da pressão. Como? Se tivesse uma fórmula que servisse para todo mundo, quem a escrevesse - e publicasse um livro a respeito - estaria rico. Por que quem neste mundo de meu Deus não enfrentou e não enfrenta algum tipo de coação?

Para um detalhe, chamo a sua atenção. Pode não haver fórmula pronta que sirva para mim e para você, a fim de nos libertar das cobranças alheias, mas há um preço. Sim. Um preço que toda e qualquer luta pela própria felicidade exige e que muito poucas pessoas estão dispostas a pagar (e que, por isso mesmo, seguem infelizes, numa vida de mentira): a solidão.

É, caro internauta. Quando a gente se rebela das receitas de felicidade que querem nos dar, dos mapas com os caminhos "direitos", "razoáveis" e "seguros" que devemos seguir, alguns amigos somem, parentes torcem o nariz para nós e até o nosso Blog (êpa: caso você tenha um, né?) perde "seguidores".

Exemplos de como lutar pela própria felicidade, desembaralhando-se das pressões externas, estão muito bem expostos no filme O Sorriso de Mona Lisa (EUA, 2003).

Reprodução-Internet
Acabei de assisti-lo pela segunda ou terceira vez, bem antes de lhe escrever este Post. Ele conta a história de uma professora de Artes, progressista, moderna e avançada, que foi designada para ensinar a meninas em uma escola que as prepara (nada mais, nada menos) para serem o que esta Bloggueira aqui, que lhe escreve, é por opção: donas-de-casa e esposas.

A personagem da atriz norte-americana Julia Roberts, a professora Katherine, instiga suas alunas a desafiarem esse sistema e a expectativa dos pais, dos namorados e da sociedade. Só que todos aprendem a superar as amarras do preconceito, incluindo a própria mestra, que vê a sua estudante favorita se recusar a ser uma grande advogada, a fim de abraçar exclusivamente o cuidado com o lar.

Porém, o que me marcou mesmo foi o pé firme de Katherine, que comprimida por todos os lados para que mudasse a sua natureza, não cedeu e preferiu bater asas, em vez de se deixar castrar e doutrinar sobre como deveria dar as suas aulas e o que deveria ensinar a suas discípulas. (Não contarei mais, porque torço muito para que assista a esse belo filme ou o reveja.)

É isso, querido internauta d'A Católica.

Há anos, assumi a briga para viver a vida do jeito em que acredito.
Para escrever sobre o que acredito.
Fugindo como pugilista no ringue dos golpes e artimanhas de gente conhecida e estranha, que tenta me indicar o que devo fazer.

Estou ciente de que a responsabilidade pela minha vida é minha.
Não é do meu marido, nem dos meus pais, nem de mais ninguém.

Que chorem, que esbravejem, que fujam e me abandonem. Quando se trata do Passaporte para o Céu, a coisa é séria. Não quero responder ao ajudante de Deus que não consegui ser feliz. Deus me livre! Afinal, quero ganhar os meus 1.000 pontos!

E assim, garantindo esse milhar, porque já estou feliz, serei capaz de fazer os outros felizes... Como você. Realmente espero que tenha ficado ao menos um pouco feliz com este Post! Saúde e Paz!!


Fotografia no início do Post, por Jesus Solana from Madrid, Spain (Click The Image)


~Ana Paula~A Católica
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