6 de dezembro de 2010

Minha homenagem ao sobrinho da Tia Mimi

John Lennon, vocalista da maior banda que existiu: THE BEATLES,
morreu assassinado por um fã, dia 8 de dezembro, 30 anos atrás

De John Lennon sei algumas coisas: a mãe seria prostituta, o pai, alcoólatra. Foi criado pela Tia Mimi - irmã de sua mãe, Julia*. Não era bom aluno. Um dia, uma das professoras lhe disse que suas redações eram "um lixo". E a tal Tia Mimi, ao vê-lo de violão em punho, entretido com sons e acordes, "vaticinou": "Você nunca vai ganhar dinheiro com isso".

John montou uma banda. Aí conheceu Paul, que lhe apresentou George. Mais à frente, chamaram Pete que depois foi trocado por Richard, cujo apelido era Ringo. E tocaram muito. Não só na terra natal, Liverpool, porto inglês, como na Alemanha. A banda mudou de nome depois de um sonho do próprio John: The Beatles, passariam a se chamar.

Foram atrás de uma gravadora - a Decca. Que os odiou e os rejeitou. Não sei quem veio primeiro: se o empresário Brian Epstein ou outra gravadora, a EMI. Em menos de 24 horas, gravaram o 1º LP - um disco preto enorme, que se tocava num aparelho chamado vitrola. Pai do CD. Ou avô dele. Um estouro. Um estouro após o outro.

John engravidou a namorada. Tentaram manter segredo, para não irritar as fãs. Era Julian - o menino para quem Paul, baixista da banda, escreveria anos mais tarde a canção Hey Jude. Aquela do "Lá Lá Lá Lálálálá Lálálálá... Hey Jude".

Voaram para os Estados Unidos, onde as rádios tocavam em uníssono: "I wanna hold your hand... I wanna hold your hand...". Não entenderam quando desembarcaram no aeroporto e viram toda aquela gritaria: "Ei, eles não acabaram de enterrar um presidente? Por que parecem tão felizes?", um deles pensou. Referiam-se a John Kennedy, que havia morrido no ano anterior.

E assim: país após país, a chamada Beatlemania foi se espalhando pelo globo terrestre como um doce tsunami que não achava barreira na língua, nas classes sociais, nas culturas nem nos costumes. Muitos anos depois de a própria banda de John ter sido desfeita, Paul ouviu de um soldado russo, quando lhe perguntou o que os soviéticos faziam nos anos 60, auge da Beatlemania: "Nós ouvíamos vocês!".

Um sucesso. Um sucesso após o outro. A Beatlemania começou em 1962. Três a seguir, John escreveu a canção Help. Ele explicaria: "Era o meu pedido de socorro, eu já queria sair da banda, daquele estardalhaço todo, daquilo ali...". Em 1965, gravou uma das minhas composições preferidas: Nowhere Man.

Ele é um autêntico Homem de Lugar Nenhum
Sentado em sua terra de lugar nenhum
Fazendo todos os seus planos inexistentes
Para ninguém

Ele não tem um ponto de vista
Ele não sabe para onde está indo
Ele não é um pouco como você e eu?

(...)


Em 1967, ajudou a criar o maior álbum de rock de todos os tempos: Sargent Pepper's Lonely Hearts Club Band. Dentro, várias canções maravilhosas. John voltava a pedir socorro, mas numa ode à amizade: With A Little Help From My Friends.

Viajaram à Índia, em busca de satisfação espiritual. Um guru os convencera de que seria importante. Haveria um passeio de helicóptero, se não me engano, sobre o rio Ganges. Quem iria com o guru? Paul contou que todo mundo levantou a mão, porém John foi tão histérico, que acabou sendo o escolhido. Na volta do voo, o amigo lhe perguntou: "Por que quis tanto ir?". "Porque achei que ele me daria a resposta...".

Ah, este John Lennon! Como todos nós, em busca da verdade fundamental.

O guru se revelou um fiasco. Brian Epstein, o empresário, morreu. A banda ficou sem direção. Paul tentou liderar, ninguém concordava. No começo da década de 70, embora o baixista tivesse declarado primeiro a sua saída dos Beatles, foi John quem proferiu a célebre frase: "O sonho acabou".

John Lennon ensaia Give Peace A Chance (1969).
Fotografia de Roy Kerwood

A essa altura, já havia deixado a mãe de Julian para se engraçar com uma japonesa: Yoko Ono, cujo nome significa, se não me falha a memória, "oceano criança". Transformaram o casamento e a lua-de-mel em publicidade pela paz: "All we are saying is give peace a chance...". Juntos, também entoaram uma música obrigatória em todo Natal que se preze: Happy Xmas (War Is Over).

Então é Natal
E o que você tem feito?
Um outro ano terminou
E um novo apenas começou

E então é Natal
Espero que você tenha diversão
O próximo e o querido
O velho e o jovem

Um Natal muito alegre!
E um feliz ano novo!
Vamos esperar que seja um bom
Sem qualquer medo

E então é Natal (e a guerra terminou...)
Para o fraco e para o forte (... Se você quiser)
Para o rico e para o pobre
O mundo é tão errado

E, então, Feliz Natal!
Para o negro e para o branco
Para o amarelo e para o vermelho
Vamos parar todas as lutas

(...)

Com a nova esposa, gravou discos e teve o 2º filho: Sean. Aí, os papéis se inverteram. John virou "dona-de-casa" e Yoko foi cuidar dos negócios. (Tinha talento: multiplicou os rendimentos do casal.) Há vídeos caseiros do ex-Beatle fazendo pão, mexendo panelas... Com o pequeno Sean amarrado a suas costas. Para o menino de olhinhos puxados, escreveu a mais linda de suas composições: Beautiful Boy.

Feche seus olhos
Não tenha nenhum medo
O monstro se foi
Ele está em fuga
E seu papai está aqui

Lindo, lindo, lindo
Lindo menino
Lindo, lindo, lindo
Lindo menino

Antes de você dormir
Faça uma pequena oração

Todos os dias em todos os sentidos
As coisas estão ficando melhores e melhores

Lindo, lindo, lindo
Lindo menino
Lindo, lindo, lindo
Lindo menino

Navegando no meio do oceano
Eu mal posso esperar
Pra ver você ficar mais velho

Mas eu acho que nós dois vamos ter que ser pacientes
(...)

John não viu Sean crescer. Na noite de 8 de dezembro de 1980, um fã, que mais cedo lhe tinha pedido um autógrafo, horas depois o chamou de novo: "Mr. Lennon?". John não teve tempo de se virar. Foram vários tiros nas costas. Numa rua de Nova York, nos Estados Unidos, ao lado da 2ª esposa. A japonesa.

O rapaz foi condenado à prisão perpétua por silenciar covardemente o sobrinho da Tia Mimi. O inglês que se tornou um grande letrista. E ficou famoso e rico com o violão. O homem que na mesma música dedicada ao filho, que ele deixava com cinco anos de idade, filosofou: "Vida é o que acontece a você/ Enquanto você está ocupado fazendo outros planos".

Para encerrar esta singelíssima homenagem, deixo aqui a canção que o John Lennon intérprete, não somente o compositor, marcou em meu coração com toda a sua dor de não ter tido uma família. Mother.

Mãe, você me teve, mas eu nunca a tive
Eu quis você, você não me quis
Então eu, eu apenas tenho que lhe dizer
Adeus, adeus

Pai, você me deixou, mas eu nunca o deixei
Eu precisei de você, você não precisou de mim
Então eu, eu apenas tenho que lhe dizer
Adeus, adeus

(...)

Mamãe não vá!
Papai venha pra casa!


P.S. *Conforme verifiquei hoje, 7 de dezembro, em uma livraria no Shopping Cidade, no centro de BH, Philip Norman, autor de John Lennon - A Vida (Companhia das Letras, 2009), informa que os pais do artista casaram-se de fato, em um cartório civil.

A união terminou quando Julia deixou Alf para se juntar a outro homem, com quem teve duas filhas. Ela morreu atropelada por um policial, que estava de folga, quando John tinha 17 anos. Alf, o pai do ex-Beatle, também refez a vida com outra mulher, com quem teve outros filhos. Ele se foi em 1976, devido a um câncer no estômago.

Não encontrei que Julia teria sido prostituta e Alf, alcoólatra, como outras biografias de Lennon nos fazem crer. Tia Mimi assumiu a criação do menino, integrante da maior banda de rock de todos os tempos, quando ele tinha seis anos de idade.


Imagem: Selo dos Correios do Azerbaijão, de 1995


~Ana Paula~A Católica
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