19 de agosto de 2010

Georgia On My Mind

Georgia: não sei qual a flor de que mais gostava...
Ofereço-lhe margaridas, as minhas preferidas!

Fotografia de Vera Kratochvil

- Alô?
- Ana Paula?
- Bença, Papai.
- Minha filha, tenho uma notícia triste pra dar...
- Fala, papai.
- A Georgina faleceu.
- Nossa... Mas o nome dela é "Georgia".
- Não, é Georgina.
- Ó: eu não sabia. Pra mim, ela era "Georgia"...
- O enterro vai ser hoje, uma hora.
- Ô, papai, infelizmente não vou poder ir. Você sabe, né? Terça-feira tenho que entregar a bendita da monografia, tô atolada até o pescoço... Dê um abraço em todo mundo por mim... Eu sinto muito...

Esse foi o telefonema que recebi no último sábado, dia 14 de agosto.

A Georgina ou "Georgia", como sempre a tratei, era a senhora doce e simpática que ajudou a criar dois primos queridos: o Christian (esse mesmo que menciono na seção Seja muito bem-vindo!! deste Blog*) e a Cínthya. Era uma segunda mãe para eles e, para nós, um membro da família. De alma... E de sangue também.

Chorei dois dias seguidos. Discretamente: sem ninguém perceber. Vinha à minha memória os vestidos da Georgia, o cabelinho dela preso em um "cóqui", os pés metidos em meias dentro das chinelas, dois brinquinhos nas orelhas, aqueles olhinhos puxados - parecia uma japonesa cor de jambo!

E o mais importante: o jeito dela de nos cumprimentar.

Eu via a Georgia na média de uma vez por ano - quando eu era criança, talvez a visse com maior frequência. Mas, todas as vezes que ela me cumprimentava, nem precisava lembrar-lhe quem eu era - e eu achava que precisava: afinal, o que meus primos (que ela criou) mais têm são... Primos! Enfim, ela não tinha obrigação nenhuma de se lembrar de mim: uma prima a mais no "bolo" de primos.

Georgia não só se lembrava: "A Ana Paula do Tuti e da Magali!..." como me dava um sorriso de Carinho e de Respeito.

Tem gente que nos faz sentir Mais Gente. Tem gente que, ao contrário, nos faz sentir "um lixo", não é mesmo? Se eu for dar "nomes aos bois"... Capaz de dar uma lista extensa de gente que não me trata com a metade do Carinho e do Respeito com que a Georgia me tratava.

Chorei, chorei e choro pela perda dela. Foi tremenda mesmo. Enorme...

Às vezes, ou melhor, muitas vezes, a gente não precisa olhar para a cara da pessoa todos os dias ou todas as semanas para ela nos tocar profundamente. As maiores comunicações são feitas sem palavras, sem gestos, sem presença. Quero dizer que a Georgia me comunicava a alma, o coração dela. E olhá-la, provocava sempre, inevitavelmente, um sorriso em mim.

Sua morte me fez pensar nisto: mesmo sem conviver com ela, mesmo sem conviver com você, Georgia, você foi importante não só para meus primos, os pais deles, mas para mim também!...

Você me fazia sentir Gente. Eu tenho parentes que não me cumprimentam com a metade do Carinho e da Atenção que você me dispensava.

Tudo isso me faz perceber que mesmo numa fila em um banco, ao entrar e sair de um ônibus, ao comprar um lanche na padaria, o nosso jeito de olhar, sorrir, desejar "Bom Dia", pode tocar Profundamente uma pessoa. Para o resto da vida dela.

Georgia: todas as vezes em que eu ouvir Ray Charles cantar...
... Vou pensar em você: Georgia On My Mind.

Obrigada!...

Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno
e a luz perpétua a ilumine.



P.S.*Essa seção não existe mais.

~Ana Paula~A Católica
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Atribuição: Ana Paula Camargo (acatolica.blogspot.com).
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